Manas
CRÍTICA


O cinema brasileiro vive um momento de grande destaque e reconhecimento, tanto dentro quanto fora do país. Nos últimos anos, temos visto obras que se propõem a discutir questões sociais profundas, e Manas surge como um exemplo notável dessa fase de maturidade do nosso cinema. O filme não se contenta em apenas contar uma história; ele expõe uma realidade dura e muitas vezes silenciada: a desvalorização e o abuso da mulher em ambientes opressores e carentes de informação.
Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora, que não serve apenas como pano de fundo, mas como elemento narrativo. Ela reflete a cultura do local e amplia a sensação de imersão, situando o espectador dentro daquele universo. A música contribui para dar autenticidade e reforçar o contraste entre a tradição e a opressão que o filme denuncia.
No todo, Manas é uma obra que ultrapassa a barreira do entretenimento e se firma como um retrato contundente de uma realidade ainda recorrente no Brasil. Infelizmente, os abusos e a desvalorização da mulher continuam sendo um problema estrutural, especialmente em regiões mais isoladas e menos assistidas pelo poder público. O filme não apenas denuncia, mas convida à reflexão, à discussão e à tomada de consciência.
Mais do que uma boa produção, Manas é um filme necessário. Ele merece não apenas reconhecimento, mas também ampla divulgação, pois dá voz a tantas mulheres que ainda vivem sob essas condições. É uma obra que reafirma a força do cinema nacional como instrumento de crítica social e como espaço de valorização de narrativas que precisam ser contadas.


Nota : 10 | 10
A força de Manas está na forma como o roteiro é construído. Não há pressa em jogar o espectador diretamente no conflito. Pelo contrário, o desenvolvimento é gradual, quase como se fôssemos caminhando junto com as personagens, descobrindo aos poucos as camadas daquele ambiente. Aos olhos de quem observa de fora, trata-se de uma comunidade que se organiza em nome da preservação da família. No entanto, o filme mostra como esse discurso é deturpado, sustentando práticas que reduzem a mulher a um papel de submissão, negando sua autonomia e a obrigando a aceitar situações inaceitáveis.
O elemento mais perturbador da narrativa é que o perigo não se restringe ao ambiente externo, mas se instala dentro da própria casa, dentro da própria família. Essa proximidade do mal torna tudo mais claustrofóbico e doloroso, já que aquilo que deveria ser espaço de proteção se converte em lugar de opressão. Além disso, o roteiro não ignora os papéis institucionais que reforçam essa realidade: a escola e a religião surgem como pilares que, em vez de libertar, aprisionam, privando a mulher do conhecimento sobre o próprio corpo e incentivando um discurso pró-familiar que, na prática, legitima a submissão ao homem.
As atuações são um dos maiores trunfos de Manas. A naturalidade e a intensidade com que o elenco se entrega ao tema dão peso à narrativa. Jamilli Corrêa, a jovem protagonista de apenas 13 anos, é o grande destaque. Sua interpretação é impressionante pela maturidade com que transmite as emoções da personagem, oscilando entre fragilidade, indignação e força de resistência. É uma performance que transcende a idade e que certamente marcará sua carreira.
