Sandman (1° e 2° Temporada)

CRÍTICA

2 min ler

Nem toda crítica precisa ser 100% neutra. E essa aqui, confesso de cara, é pessoal. Sandman não é apenas uma HQ para mim, é minha HQ favorita. Ver essa obra ganhar vida na tela com tanto capricho me causou algo difícil de explicar, uma comoção bonita, quase íntima, como reencontrar um velho amigo em outra forma.

A primeira temporada acerta em cheio ao adaptar os arcos iniciais com calma, respeitando a ordem e o ritmo. Já a segunda, infelizmente, sofreu com interferências externas e cortes que exigiram uma aceleração forçada em alguns trechos. Para quem leu os quadrinhos, ainda é possível preencher as lacunas e entender a narrativa. Mas para o público novo, algumas partes podem parecer desconexas ou apressadas demais.

Ainda assim, "Sandman" é um espetáculo técnico. A trilha sonora acerta tanto na emoção quanto na tensão. Os efeitos visuais não estão ali só por beleza, eles elevam o mundo dos Perpétuos, dão forma aos sonhos, aos pesadelos, às ideias. E isso é central, porque Sandman nunca foi apenas fantasia: é uma história sobre humanidade e transformação.

A série nos convida a refletir sobre nossos próprios Perpétuos internos, como lidamos com o nosso futuro (Destino), como desejamos sem medida (Desejo), como destruímos relações (Destruição), como deliramos e desesperamos por tantas coisas (Delírio e Desespero). Como vivemos com medo da (Morte) e, ao mesmo tempo, sonhamos com uma vida melhor (Sonho). É uma narrativa sobre transformação, dor e beleza, tudo isso sob a ótica de um personagem que nem humano é, mas que aprende a ser.

A fidelidade com que a série trata o material original é admirável. Não falo só de visual ou roteiro, mas de essência. A alma dos quadrinhos está ali, pulsando em cada cena. Mesmo com mudanças de etnia ou aparência em alguns personagens, a essência não se perdeu. Um exemplo claro é Morte, cada aparição dela é simplesmente perfeita. Carismática, sensível, poderosa. Uma das melhores adaptações que já vi.

No fim, dou duas notas:

Nota Técnica (para quem nunca leu a HQ): 8,5 | 10. Uma série rica, mas com algumas quebras de ritmo na segunda temporada.

Nota Emocional (como fã de coração): 10| 10. Pela sensibilidade, pelo respeito à obra original, e por me fazer sonhar de novo com as páginas que eu tanto li.

Mas o destaque absoluto vai para Tom Sturridge como Sonho. É fácil subestimar sua atuação à primeira vista, já que o personagem é contido, quase inexpressivo. Mas basta observar com atenção: há um oceano de emoções nos silêncios, nos olhares, nos gestos mínimos. Ele carrega o peso de um ser eterno, com camadas que só os fãs mais atentos conseguem captar. Uma performance sutil e poderosa.